sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Lembro-me de forma clara que naquela noite choveu sem cessar. O mesmo aconteceu em todos os dias e noites que se lhe seguiram. E a rua deserta era um cemitério velado por candeeiros enterrados na neblina.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Pergunto muitas vezes, de mim para mim, se conseguirás entender tudo o que te digo.

O mais estranho é saber que sabes e entendes tudo daquilo que nunca cheguei a contar-te.

sábado, 11 de dezembro de 2010


Não sei que horas serão. Caminho sem pressa, apenas pelo prazer de sentir o movimento do corpo cortar o ar por onde passa. Páro e olho para trás. A aldeia está mais distante. Continuo no meu caminho, o caminho que vou fazendo à medida que vou andando. Não sei durante quanto mais tempo ando. De um lado e de outro, uma paisagem verdejante e, quase escondida pela vegetação, a água que desce pela montanha enquanto se vai estreitando até terminar num fio de água quase imperceptível. Não fosse a fonte de aspecto grosseiro na qual a água cai pacientemente, a conta gotas, pareceria que nunca ninguém ali havia estado. Uma pequeno rochedo talhado pela natureza revela-se timidamente ao lado da tosca fonte. Já devem ter passado por ele muitos anos, mais do que aqueles que consigo contar e ele deve ter-se habituado às visitas à fonte, porque ganhou a forma de um assento. Quantos, antes de mim, terão aqui passado? Quantos terão descansado nesta sombra? Sento-me. Não tenho urgência de chegar a qualquer lado. Inclino-me sobre a fonte e tenho que juntar as mãos em forma de concha para conseguir reter alguma da escassa água fresca entre os dedos. Daqui consigo ver a aldeia ao longe. As casas espalhadas de forma desordenada pela encosta parecem fazer todo o sentido. Não poderiam estar de outra forma. Aqui e ali, saindo de uma ou outra chaminé, vejo o fumo que se vai desfazendo de encontro ao céu. O sol apareceu sem vergonha e o vento quase nem se sente. Até as árvores lhe são indiferentes. Permanecem impávidas perante o seu sopro. Apenas algumas nuvens se arrastam vagarosamente ao sabor desta brisa amena e inebriante.
Gosto desta monotonia... E mesmo que um dia volte a procurar-me nos sítios onde não estou, mesmo que continue a imaginar me de uma forma que não sou, agora estou aqui. Não me sinto errante, não me sinto perdida. Sinto-me.
Sinto invadir-me uma serenidade quente e reconfortante. Sorrio. Finalmente sei. O segredo que julgava estar guardado para lá das portas do universo, inatingível ao entendimento humano, carrego-o comigo. O segredo está em mim. O segredo não está nas minhas escolhas, certas ou erradas, mas no poder que tenho de escolher. Agora sinto-me livre, dona de mim, do meu tempo, senhora do meu mundo, agora sou apenas aquela que me penso.

Gosto deste silêncio.
E finalmente... o silêncio é apenas silêncio.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Entre Linhas.

Respiro fundo antes de entrar no quarto. Magoa-me olhar para ela. Parece que diminuiu de tamanho e respira fragilidade. Abraço-a de mansinho e dou-lhe um beijo na testa. Sorrio e pergunto-lhe se hoje se sente melhor. As dores continuam a ser muitas, responde ela tristemente, mas o pior era não poder sair dali. Não lho digo e ela nem sonha a vontade que tenho de tirá-la dali... Explico-lhe, com muita calma, como se ela fosse uma menina de quatro anos, que agora tem mesmo que ficar ali para ficar boa depressa, que tem que se portar bem e fazer tudo o que os doutores lhe disserem, que é para o bem dela. Ela ouve-me com atenção e com a cabeça acena afirmativamente. Balbucia que eu não devia ir lá todos os dias, que preciso de descansar e eu só lhe respondo que não me custa nada. Sorrio novamente. Não custa mesmo. Ela diz que não precisa de tantas visitas, porém, sei que o olhar dela às 14h está fixo na porta de entrada do quarto, ansiando o chegada de uma cara amiga. Detesto este cheiro a hospital, detesto estas paredes brancas, as camas todas iguais, esta frieza que torna tudo impessoal. Detesto vê-la aqui. Ontem trouxe-lhe rosas da sua cor preferida. Hoje levei-lhe bolos. Pouco falamos, chega mais gente ao quarto e eu deixo-me ficar sentada na cama a dar-lhe a mão. Não lhe digo que fui encontrá-lo em casa a enxugar os olhos, envergonhado. Ele foi educado para não demonstrar sentimentos deste tipo. E eu fingi que não vi para lhe poupar o embaraço. Não lhe digo que parece mais velha, que cada dia que passa no hospital lhe aumenta dez anos nos olhos e que está realmente abatida. Mascaro tudo muito bem com um sorriso, porque tenho que ser forte, por mim e por ela. Amanhã, quando voltar, não lhe direi que hoje, no regresso a casa, lambi lágrimas durante todo o caminho. Às vezes, amar também é calar.



quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Isto até podia vir a ser um post de qualidade indiscutível.

Tornei-me uma lutadora exímia naquela que é a arte da guerra. Aprendi a defender-me, aprendi a atacar, aprendi que, por vezes, a melhor defesa é o ataque. Mas perante uma pessoa que baixa a guarda, que se despoja das armas e me revela as suas fragilidades, sinto-me fraquejar.